Original: https://www.rt.com/russia/590587-gonzalo-lira-death-ukraine-zelensky/
RT
13 Jan, 2024
Gonzalo Lira: The US government has allowed Ukraine to kill an American journalist who criticised ‘dictator’ Zelensky
Gonzalo Lira: O governo dos Estados Unidos permitiu que a Ucrânia matasse jornalista estadunidense que criticou o ‘ditador’ Zelensky
Em um mundo de covardia e mentiras, dizer a verdade naquilo – e no momento em que – realmente importa requer coragem. E pode custar a vida
By Tarik Cyril Amar, a historian from Germany working at Koç University, Istanbul, on Russia, Ukraine, and Eastern Europe, the history of World War II, the cultural Cold War, and the politics of memory
© Gonzalo Lira / YouTube https://mf.b37mrtl.ru/files/2024.01/thumbnail/65a302e785f5401a6253c2c7.png
Pois é, Gonzalo Lira está morto. Como ele avisou em sua última mensagem de vídeo antes de ser desaparecido* (desta vez, como se viu, para sempre) pelo regime ucraniano, seu jornalismo político custou-lhe a vida.
*No Brasil quase 200 pessoas desaparecem por dia. https://brazilreports.com/183-people-disappear-daily-in-brazil-yet-the-country-has-no-national-registry-for-the-missing/4997/#:~:text=183%20people%20disappear%20daily%20in%20Brazil%20yet%20the,are%20teenagers%20between%2012%20and%2017%20years%20old. Para mortos e desaparecidos a partir de 1964 ver https://documentosrevelados.com.br/dossie-dos-mortos-e-desaparecidos-politicos-a-partir-de-1964/ N. do T.
Comentarista bem-sucedido de mídia social e cidadão estadunidense, Lira morreu enquanto estava preso pelo aparato de repressão da Ucrânia por suas críticas à posição ocidental e ucraniana na guerra contra a Rússia. Seus termos eram frequentemente diretos, até mesmo duros e polêmicos. Ele contudo não era espião ou algum tipo de agente de influência subversiva. Era transparente e aberto to a fault*, defendendo com seu próprio nome – e vida – tudo o que dizia. Ele era prisioneiro político (sim, concordo com Tucker Carlson nesse ponto); as acusações oficiais ucranianas contra ele são uma afronta** ridícula.
*to a fault – Em medida grande ou excessiva. ‘Ela é generosa to a fault.’ [=enormemente generosa ou excessivamente generosa] The Britannica Dictionary
**disgrace – Algo de que a pessoa se envergonha ou deveria envergonhar-se. ‘As maneiras dele à mesa são uma disgrace.’ ‘Não é disgrace ser pobre.’ [=ninguém deve ficar envergonhado por ser pobre] ‘O sistema de saúde do país é uma disgrace nacional.’ ‘É uma disgrace [=vergonha] completa a municipalidade ter ignorado esse problema por tanto tempo.’ Britannica
É praticamente certo que a causa imediata de sua morte foi negligência grave, prolongada e sistemática, que levou à sua morte indireta – totalmente deliberada ou não – por doença (pneumonia e complicações) que é perfeitamente tratável. Em termos legais isso se qualifica como, no mínimo, homicídio culposo ou até mesmo assassínio, cometido por oficiais ucranianos da “lei” e por aqueles que emitem ordens para eles.
De acordo com o que Lira declarou quando ainda conseguia comunicar-se, ele também foi torturado de maneira mais tangível, por meio de pilhagem de seu patrimônio pessoal. Para quem sabe como a política e as autoridades da Ucrânia funcionam/atuam, não há qualquer motivo para não acreditar-se no que ele disse.
Apesar dos esforços louváveis de cidadãos estadunidenses tão proeminentes/ilustres quanto Tucker Carlson e Elon Musk para ajudar Lira, o governo dos Estados Unidos – US tornou-se cúmplice de fato de sua morte ao recusar-se a ajudar um de seus próprios cidadãos que estava, obviamente, em perigo extremo. A propósito, Lira disse-nos ter ouvido de pessoas bem informadas que a própria Victoria “Emérita Distribuidora de Biscoitos Doces e Rainha do Golpe e da Guerra*” Nuland tinha conhecimento da situação dele e “hated his guts**/detestava-o.”
*Neocon Cookie Monster and Queen of Coup and War – https://www.youtube.com/watch?v=fbjNJbjEy04 e https://www.youtube.com/watch?v=WV9J6sxCs5k
**hated his guts – A expressão hate someone’s guts significa detestar alguém. Ver Cambridge, Collins N. do T.
Numa hora em que o Ocidente está acelerando sua habitual disseminação da guerra e até mesmo de genocídio poderá parecer quase excêntrico dedicar um texto a uma única vida subtraída. Todas as vidas humanas têm exatamente o mesmo valor absoluto, verdade que toda pessoa decente aceita e, o que é mais importante, pratica, seja ela religiosa ou não. E, no entanto, por causa da maneira como o poder funciona em nosso mundo completamente decaído, faz sentido falar a respeito de Lira.
Em primeiro lugar para pay our respects*. É verdade que Gonzalo Lira não era nenhum santo (assim como todos nós, aliás). Ele tinha coisas em seu currículo (trabalhar como “promotor de encontros”, por exemplo) das quais ele, como todo mundo, deveria arrepender-se pelo resto da vida. Ele também tinha opiniões políticas das quais eu, pessoalmente, discordo totalmente, como seu tipo específico de libertarismo e defesa da horrenda/indesculpável ditadura de Pinochet no Chile.
*pay our respects – Visitar ou falar com alguém de maneira educada como sinal de respeito. ‘Fui até ela após a reunião e paid my respects.’ Merriam-Webster
E daí? Ele era excepcionalmente corajoso, o que, no final, custou-lhe a vida. E teve a extraordinária honestidade de não apenas entender o quanto era errada a guerra por procuração de US-OTAN na e via Ucrânia como, ademais, dizer isso tão altissonante e publicamente. E estando pessoalmente na Ucrânia. (E, full disclosure* mais uma vez, tive a honra e o prazer genuínos de ser convidado para o seu programa no YouTube, onde ele era apresentador inteligente e gracious** com senso de humor irreverente).
*full disclosure – “Divulgação completa” neste contexto significa dar a conhecer qualquer possível preconceito ou conexão pessoal que você possa ter em relação ao assunto do artigo. No caso você está mencionando sua experiência positiva com Philip Walter Lira e o compartilhamento de críticas à guerra na Ucrânia, o que poderá, eventualmente, influenciar sua perspectiva. Google Bard
**gracious – Muito cortês, de maneira que mostra respeito. ‘Foi muito gracious da parte dele oferecer-nos um lugar para hospedar-nos.’ ‘Apresentador gracious de programa de entrevistas.’ ‘Muito obrigado por sua gracious hospitalidade.’ Britannica ‘O time perdedor foi gracious na derrota.’ Cambridge
Em um mundo de covardes carreiristas desonestos (vejam Olaf Scholz, Robert Habeck, Annalena Baerbock, por exemplo…) e de mentiras habituais e grosseiras (é a vez de Benjamin Netanyahu, Joe Biden, Antony Blinken e, sim, Vladimir Zelensky), Gonzalo gritou a verdade onde ela importava e isso exigiu coragem.
É por isso que Stella Assange, a esposa do prisioneiro político mais importante do mundo, Julian Assange, tuitou acerca da morte de Lira, destacando com razão a responsabilidade das autoridades dos US.
O pai de Gonzalo Lira deveria ter a última palavra. Foi isso que ele disse ao Grayzone:
“Não consigo aceitar a forma como meu filho morreu. Ele foi torturado, extorquido, ficou incomunicável por 8 meses e 11 dias e a Embaixada dos US não fez nada para ajudar meu filho… A responsabilidade por essa tragédia é do ditador Zelensky com a concordância de Presidente estadunidense senil, Joe Biden… Minha dor é insuportável. O mundo precisa saber o que está acontecendo na Ucrânia com esse ditador desumano, Zelensky.”
Podemos sentir-nos genuinamente solidários, embora não possamos sentir literalmente a profundidade da dor dele. Para todos nós, porem, a morte aos poucos, injusta e totalmente evitável de Gonzalo Lira é mais um sinal brutal de que aqueles que governam o Ocidente não respeitam mais nenhum limite.
The statements, views and opinions expressed in this column are solely those of the author and do not necessarily represent those of RT.
Items chosen for translation do not necessarily reflect the opinions of this blogger.