RT – History tells us the United States’ supposed ‘concern for democracy’ in Nicaragua is nothing of the sort

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History tells us the United States’ supposed ‘concern for democracy’ in Nicaragua is nothing of the sort

A História revela para nós que o pretenso ‘apreço pela democracia’ dos Estados Unidos na Nicarágua não é nada disso

30 Jul, 2021

Handout picture released by Nicaraguan Presidency shows Nicaraguan President Daniel Ortega (C), Vice-President Rosario Murillo (L) and Carlos Fonseca Teran (R) attending to the anniversary ceremony of Sandinista leader Carlos Fonseca. © Handout / Nicaraguan Presidency / AFP

Daniel Kovalik teaches International Human Rights at the University of Pittsburgh School of Law, and is author of the recently-released No More War: How the West Violates International Law by Using “Humanitarian” Intervention to Advance Economic and Strategic Interests.

Um século e meio já nos mostrou que a ingerência estadunidense na Nicarágua nada tem a ver com melhorar as condições de vida do povo daquela nação, e diz respeito apenas a promover a agenda imperialista de Washington.

O governo dos Estados Unidos – US/U.S./USA está agora fazendo de novo a mesma coisa. Está de novo manifestando preocupação com o estado da democracia na Nicarágua, e conjurando nova rodada de sanções punitivas contra aquele pequenino país para alegadamente impedir que ditadura se instale ali. 

O mais recente projeto de lei de sanções a serem aplicadas ao país intitula-se “Reinforcing Nicaragua’s Adherence to Conditions for Electoral Reform (RENACER) Act.” [Lei de Robustecimento da Adesão da Nicarágua a Condições de Reforma Eleitoral] Como a versão do Senado explica, “Este projeto de lei requer que o poder Executivo alinhe a diplomacia dos US e as sanções pontuais/específicas, a bem de serem promovidas eleições democráticas na Nicarágua, e inclui novas iniciativas para lide com/enfrentamento de corrupção, abusos em direitos humanos e sufocamento da liberdade de imprensa.” Infelizmente muitas organizações não governamentais e muitos ‘intelectuais’ que deveriam saber das coisas ficaram do lado do governo nesse ataque à Nicarágua. 

Vale a pena, porém, contar breve história do envolvimento dos US na Nicarágua, para avaliar com exatidão a boa fé do governo no tocante a seu interesse na democracia daquele país. O primeiro caso de intervenção dos US na Nicarágua tomou a forma de William Walker, em meado século 19, por volta da mesma época em que a Doutrina Monroe, segundo a qual os US proclamaram sua prerrogativa exclusiva de domínio do Hemisfério Ocidental, era anunciada. William Walker declarou-se ele próprio presidente da Nicarágua, reinstituiu a escravatura ali, e queimou a histórica cidade de Granada for good measure(*)/para não deixar dúvidas, e no entanto seu foray(**) no país foi apoiado por muitos estadunidenses como exercício de avanço progressista(***).

(*) for good measure – Em acréscimo (como para fechar negócio). ‘O vendedor de carros incluiu grátis o rádio, for good measure.’ Vocabulary.com

(**) foray – Breve excursão/incursão. Para o pessoal das forças armadas, foray significa literalmente incursão em território inimigo. Para nós outros, significa fazer uma experiência, experimentar. ‘Meu foray em alpinismo rendeu-me uma semana no hospital.’ Vocabulary.com

(***) progressive advancement – Progressive, adjetivo, quer dizer progressista. Por exemplo, pessoas progressive são a favor de reformas e liberdades civis; é o oposto de conservative, e significa algo próximo de ‘liberal’. Advancement, substantivo, significa crescimento, aumento, desdobramento, melhoria, aperfeiçoamento, ou progresso. ‘O advancement da medicina moderna resultou em vida mais longa para muitas pessoas.’ Então progressive advancement significa algo como progresso progressista, avanço progressista, avanço de/com caráter progressista, desdobramento de natureza progressista etc. Vocabulary.com, Lexico, N. do T.

John J. Mangipano explica bem esse fenômeno em sua dissertação peer-reviewed(*) intitulada ‘William Walker and the Seeds of Progressive Imperialism: The War in Nicaragua and the Message of Regeneration, 1855-1860’. [A Guerra na Nicarágua e a Mensagem de Regeneração, 1855-1860] Como ele explica: “Por breve período de tempo, entre 1855 e 1857, William Walker com sucesso retratou-se para plateias estadunidenses como o regenerador da Nicarágua. Embora ele tivesse chegado à Nicarágua em junho de 1855 com apenas cinquenta e oito homens, sua imagem como regenerador atraiu diversos milhares de homens e mulheres que se juntaram a ele na missão dele de estabilizar a região. Walker valeu-se tanto de seus estudos médicos quanto de sua experiência em jornalismo para elaborar uma mensagem de regeneração que aplacou/acalmou as ansiedades que muitos estadunidenses sentiam acerca da instabilidade do Caribe. As pessoas apoiaram Walker porque ele ofereceu uma estratégia de regeneração que situa os anglo-americanos como os stewards(**) médicos e raciais de região dilacerada pela guerra. A confiança dos estadunidenses na capacidade dele de regenerar a região catapultou-o para a presidência da Nicarágua em julho de 1856. … Embora William Walker não tenha no final sido bem-sucedido como regenerador, progressistas estadunidenses tais como Theodore Roosevelt retomaram a ênfase dele em estabilização médica e racial por meio de suas próprias políticas para o Caribe, a partir dos anos 1890.”

(*) peer-reviewed – Se obra/trabalho científico, acadêmico ou profissional é peer-reviewed, ele sofreu peer-review. Peer-review é avaliação profissional efetuada por colegas da mesma área. ‘É parte do código de conduta científico não tornar nenhum trabalho público antes de ele ser submetido a peer review/de ele ser peer-reviewed.’ Vocabulary.com, Lexico

(**) stewards – Steward é alguém que cuida de herdade/casa com terreno em volta ou de animais de determinado lugar. Se seus pais estão sempre viajando e você fica encarregado de cuidar de seus seis irmãos menores, você provavelmente se sentirá como o steward da casa. Vocabulary.com

Como Mangipano conclui, “A continuidade que existiu entre esses grupos de imperialistas sugere que os regeneradores, a despeito de seus fracassos temporários, conseguiram fazer prosperar ideias acerca de por que os estadunidenses precisavam intervir no Grande Caribe.” Esse impulso rumo a “imperialismo progressista” – hoje denotado pela expressão mais cortês e suave de “intervencionismo humanitário” – continua a motivar até muitos esquerdistas dos US em suas atitudes em relação à Nicarágua e a outros países do Sul Global, e com os mesmos terríveis/execráveis resultados.

Por outro lado, em nome do progressismo e da promoção de democracia os US enviariam seus Marines(*) para ocupar a Nicarágua na primeira parte do século 20, e implantariam a ditadura Somoza que governou a Nicarágua com mão de ferro por mais de quatro décadas a partir de 1936. Os Marines sofreram derrotas humilhantes impostas por Augusto César Sandino e sua quadrilha de homens e mulheres capazes de ação rápida. Posteriormente Sandino foi assassinado e os Somoza mantiveram o controle. Os Estados Unidos mais tarde organizaram, financiaram e dirigiram/administraram os homicidas integrantes da antiga Guarda Nacional de Somoza na forma dos Contras, para tentarem destruir a Revolução Sandinista, que finalmente derrubara a querida ditadura dos US em 1979. Washington tentou coagir o povo nicaraguense para que votasse contra os sandinistas em 1990 mediante ameaça de guerra continuada e brutais sanções econômicas. Então, em 2018, apoiou violentos insurgentes que aterrorizaram a Nicarágua por meses em esforço de derrubar o muito popular governo sandinista que havia sido reeleito em 2006.  

(*) Marines – Marine é em geral membro do Marine Corps, tropa treinada para atuar tanto em terra quanto no mar. Lexico

Em suma, há grave ameaça à democracia na Nicarágua. Não porém por causa de Daniel Ortega e dos sandinistas, que criaram o primeiro estado democrático no país em anos. E sim por causa dos Estados Unidos e dos “useful idiots” [inocentes úteis] que continuam a acreditar que os US estão de alguma forma tentando implantar democracia, a despeito de toda evidência em contrário.  

Uma das maneiras pelas quais os US estão ameaçando a democracia é mediante financiarem esforços/iniciativas de desestabilização e contrárias ao governo na casa dos/da ordem de milhões de dólares. A Nicarágua tem reagido, como o faria qualquer nação que se desse o respeito, mediante punir aqueles que facilitaram tal interferência estrangeira, nos termos de sua Lei 1055, intitulada ‘Ley de Defensa de los Derechos del Pueblo a la Independencia, la Soberanía e Autodeterminación para la Paz’/‘Law for the Defense of the Rights of the People to Independence, Sovereignty, and Self-Determination for Peace’. Como Stephen Sefton, educador que reside há décadas em Estelí, Nicarágua, explica:

“Under the law, it is a crime to seek foreign interference in the country’s internal affairs’ request military intervention; organize acts of terrorism and destabilization; promote coercive economic, commercial and financial measures against the country and its institutions; or request and welcome sanctions against the State of Nicaragua and its citizens(*).

(*) A lei tem apenas um artigo, que é: Los nicaragüenses que encabecen o financien un golpe de estado, que alteren el orden constitucional, que fomenten o insten a actos terroristas, que realicen actos que menoscaben la independencia, la soberanía, y la autodeterminación, que inciten a la injerencia extranjera en los asuntos internos, pidan intervenciones militares, se organicen con financiamiento de potencias extranjeras para ejecutar actos de terrorismo y desestabilización, que propongan y gestionen bloqueos económicos, comerciales y de operaciones financieras en contra del país y sus instituciones, aquellos que demanden, exalten y aplaudan la imposición de sanciones contra el Estado de Nicaragua y sus ciudadanos, y todos los que lesionen los intereses supremos de la nación contemplados en el ordenamiento jurídico, serán “Traidores a la Patria” por lo que no podrán optar a cargos de elección popular, esto sin perjuicio de las acciones penales correspondientes establecidas en el Código Penal de la República de Nicaragua para los “Actos de Traición”, los “Delitos que comprometen la Paz” y los “Delitos contra la Constitución Política de la República de Nicaragua”. http://legislacion.asamblea.gob.ni/SILEG/Iniciativas.nsf/C4084E2665A5610F06258642007E9C3F/%24File/Ley%20N°%201055%2C%20Ley%20Defensa%20de%20los%20Derechos%20del%20Pueblo.pdf?Open N. do T.

“Além disso, Cristiana Chamorro, da Fundación Violeta B de Chamorro, Juan Sebastián Chamorro, da Fundación Nicaraguense para el Desarrollo Económico y Social (FUNIDES), Félix Maradiaga do Instituto de Estudios Estratégicos y Políticas Públicas (IEEPP) e Violeta Granera do Centro de Investigaciones de la Comunicación (CINCO) podem também enfrentar acusações de lavagem de dinheiro e de violação da lei de ‘Agentes Estrangeiros’ que requer que todas as organizações que recebam financiamento do exterior [no caso, dos US] registrem-se junto às autoridades, informem o montante de dinheiro recebido e como é usado.”

Contudo, como Sefton enfatiza, “A despeito de numerosos relatos na mídia internacional em contrário, nenhuma das pessoas detidas havia sido selecionada por qualquer das alianças políticas ou partidos da Nicarágua como possivel candidata na eleição geral vindoura em 7 de novembro deste ano. Cristiana Chamorro, Juan Sebastián Chamorro, Arturo Cruz e Félix Maradiaga haviam antes declarado que aspiravam a candidatura por um dos partidos políticos, mais provavelmente a aliança política Ciudadanos por la Libertad. Nenhum deles, porém, estava formalmente sendo cogitado. De qualquer forma, como muitos observadores já notaram, a imagem da possível candidatura deles para as eleições tem servido como cortina de fumaça para desviar a atenção de acusações criminais contra eles, em razão das quais eles enfrentariam processo em praticamente qualquer país do mundo.” Note-se essa última importante sentença.

Para dizê-lo sem rodeios, os US é que, como vêm fazendo há século e meio, estão tentando ditar ao povo nicaraguense o tipo de governo e de modelo econômico que deverá escolher. Como nação independente e soberana, a Nicarágua tem todo o direito de reagir a essa incessante interferência.  

Acabo de voltar da Nicarágua onde, juntamente com outros membros de delegação internacional, testemunhei em primeira mão o entusiasmo do povo nicaraguense pela Revolução Sandinista em seu aniversário, em 19 de julho(*). Vi a multidão de milhares de pessoas reunida na Praça Papa Paulo II, em Manágua, para comemorar aquele extraordinário evento, no qual a Frente Sandinista, liderada por Daniel Ortega, derrubou ditador fortemente armado pelo governo dos US. Nossa delegação visitou Masaya, que foi bombardeada do ar por Somoza nos dias finais de seu governo brutal. Continua a ser reconstruída depois da destruição causada pelos neo-Contras de 2018 que, com apoio dos US, sitiaram a cidade e aterrorizaram-na por meses, até que os históricos combatentes que derrotaram Somoza impuseram-lhes fragorosa derrota com auxílio da polícia.

(*) Não noto no Brasil particular entusiasmo popular pela Revolução Democrática de 1964, em seu aniversário em 31 de março. N. do T. 

Durante nossa viagem vimos com nossos próprios olhos os incríveis avanços promovidos pelo governo sandinista, que está proporcionando assistência de saúde e educação grátis para todos os nicaraguenses. Testemunhamos que as crianças, que haviam sofrido por causa de tanta pobreza e privação durante os anos de Somoza e da Guerra dos Contras que se seguiu, estão frequentando escola e brincando nos lindos parques erigidos em todo o país pelos sandinistas. Viajamos pela Nicarágua em estradas excelentemente asfaltadas que no passado eram poeira e pedra, isso quando existiam.

Eu próprio viajei nas estradas de terra de lá em 1987 e 1988, quando visitei a Nicarágua pela primeira vez. Vi, então, crianças vestidas de trapos e sem sapatos/descalças, que mal conseguiam o que comer por causa das sanções dos US e da guerra brutal. Hoje não se vê na Nicarágua tal tipo de indigência, e isso graças à Revolução Sandinista, que, contrariamente a afirmações mainstream(*), tem permanecido fiel a seus valores de defender os pobres e os mais vulneráveis.

(*) mainstream – Algo é mainstream, adjetivo, quando a maior parte das pessoas o vê como normal, ou como sendo o modo usual, convencional de fazer as coisas. Por exemplo, é ponto de vista mainstream que as pessoas devem casar-se e em seguida ter filhos o quanto antes. Como substantivo, o mainstream é o conjunto de pessoas, atividades ou ideias que são as mais típicas/usuais, normais e convencionais. ‘Pessoas pobres decididamente fora do mainstream econômico.’ ‘Foi a primeira experiência da empresa no mainstream da computação científica e comercial.’ ‘O espetáculo/show tem como alvo uma audiência/plateia mainstream.’ ‘Parte dessa indiferença vem de as pessoas estarem desencantadas com o mainstream da política.’ Mainstream é literalmente a corrente (stream) principal (main), ou majoritária, e inicialmente era palavra usada para denotar a corrente principal de um rio. Vocabulary.com, Collins

Nada obstante, os US estão decididos a destruí-la, e a destruir o progresso que trouxe ao povo nicaraguense. E o povo está plenamente consciente disso, eis porque 85% dos pesquisados opõem-se a interferência estrangeira em seu país, como qualquer nação que se respeite fará. Perfilo-me com ele para denunciar interferência, sanções e agressão dos US contra aquele pequeno país que tem corajosamente peitado o Golias do Norte. Nessa luta bíblica, todo o meu apoio vai para Davi.

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